Géza Kós ministrou treinamentos para os alunos do Etapa e para estudantes de outras escolas.
Entre os dias 22 de abril e 4 de maio, o Colégio Etapa recebeu a visita do matemático húngaro Géza Kós, que ministrou treinamento olímpico de Matemática para 22 estudantes, sendo 10 do Etapa e 12 de escolas localizadas nos estados do Ceará, do Distrito Federal e do Rio de Janeiro.
Todos os participantes do treinamento aguardam os resultados das seletivas para a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), que é considerada a maior e mais importante competição científica do mundo para estudantes do Ensino Médio e terá a sua 60ª edição em 2019.
Já o professor Géza Kós faz parte de um grupo seleto: com três participações na IMO, ele conquistou uma medalha de prata (1984) e duas de ouro (1985 e 1986), sendo que nessas duas últimas ocasiões terminou a competição em primeiro lugar no ranking geral. Além disso, o matemático é um dos integrantes do comitê de seleção dos problemas da IMO.
“O professor Géza tem uma experiência valiosa em competições internacionais. Durante os treinamentos, ele apresentou diferentes técnicas para a resolução dos exercícios e esclareceu muitas dúvidas dos estudantes. Acredito que essa vivência com ele fará toda a diferença para os competidores que forem selecionados para a IMO”, comenta Régis Prado Barbosa, coordenador de olimpíadas de Matemática do Colégio Etapa.
A preparação ocorreu em duas fases: entre os dias 22 e 30 de abril, Kós trabalhou a resolução dos exercícios com a turma inteira. Já entre os dias 2 e 4 de maio, o treinamento foi exclusivo para os alunos do Etapa, que foram divididos em turmas intermediárias e avançadas.
“Numa competição como a IMO, a gestão do tempo é fundamental. O professor Géza mostrou métodos alternativos para que possamos responder às questões no menor tempo possível”, destaca Bernardo Peruzzo Trevizan, aluno do Colégio Etapa e medalhista de bronze na IMO 2018.
Confira a seguir a entrevista com o especialista em olimpíadas de Matemática:
Pergunta: Como foi a sua preparação para conquistar três medalhas na IMO?
Géza: Tomei conhecimento da IMO quando entrei no High School, mas, naquele momento, a possibilidade de participação era apenas um sonho distante. Alguns professores me incentivaram e disseram que existia a chance de classificação, mas que eu realmente precisaria me preparar. Então, peguei um exemplar do KöMaL* e comecei a resolver os exercícios. Eu participei da IMO três vezes. Na primeira vez, cometi muitos erros e fiquei com a medalha de prata. Então, compreendi que a preparação que eu tinha feito não era suficiente para conquistar o ouro. Voltei à estaca zero e comecei a resolver ainda mais exercícios e desafios Matemáticos. Pessoalmente, eu acredito que a experiência e a repetição me ajudaram. No total, a minha preparação durou cerca de dois anos, até que eu atingisse a maturidade necessária. Fiz todas as atividades e preparações possíveis, de segunda à sexta-feira, e conquistei duas medalhas de ouro nos anos seguintes.
Pergunta: Quem são as pessoas em quem você se inspirou para se preparar?
Géza: Tive o apoio de um professor excelente, o István Reiman, que me orientou e me passou uma série de exercícios semelhantes aos da IMO. Ele foi o líder das delegações olímpicas da Hungria por muitos anos. Eu tive outros professores muito bons, mas o István me marcou bastante. Além dele, eu também gostava muito dos professores organizadores do KöMaL.
Pergunta: Como a IMO evoluiu ao longo dos últimos anos? Mudou muito o estilo da prova? Como isso impactou a preparação dos estudantes?
Géza: A IMO evoluiu para se adequar ao perfil dos competidores. O número de participantes cresce a cada ano e as equipes chegam cada vez mais preparadas, então a prova precisa acompanhar o nível de conhecimento delas. O nosso desafio, enquanto docentes, é fazer com que eles respondam às questões cada vez mais rápido. Essa agilidade é fundamental, dadas as características da competição.
Há 15 anos alguns membros da comunidade científica da Matemática fundaram um fórum na internet e, desde então, os estudantes do mundo todo têm estudado de forma colaborativa. Assim, mais jovens passaram a sonhar com um bom resultado na IMO e isso tem se refletido na representatividade entre os medalhistas.
Pergunta: Na sua opinião, de que forma as olimpíadas científicas e culturais contribuem para a formação dos estudantes?
Géza: Acredito que as competições trazem amadurecimento para os alunos, mesmo que não virem matemáticos. Enfim, participar dos treinamentos ou das olimpíadas pode ser benéfico para que os alunos consigam ser aprovados no vestibular ou até mesmo tenham um bom desempenho nos cursos de Exatas na faculdade. Porém, não há um estereótipo entre os estudantes que participam de olimpíadas: tive alunos que hoje são físicos, engenheiros, políticos... O importante é que o aluno descubra as próprias preferências e aptidões, trabalhando sempre para aperfeiçoá-las.
Pergunta: Quais foram os conteúdos abordados durante o treinamento realizado no Colégio Etapa?
Géza: Os alunos fizeram cerca de 150 exercícios e a maior parte foi retirada do KöMaL Os temas foram aqueles que são abordados com frequência na IMO: Álgebra, Combinatória, Geometria e Teoria dos Números.
Pergunta: Quais competências os alunos precisam desenvolver para terem um bom desempenho na IMO?
Géza: Além do domínio técnico, o estudante precisa resolver as questões no menor prazo possível, pois o tempo de duração da IMO é curto. Por isso, a prática é fundamental, sobretudo nas matérias em que o participante tiver mais dificuldade.
Eu gosto de comparar a competição com um jogo de futebol: basta ter tranquilidade e tocar a bola para o gol. Não há fórmulas para ser um medalhista, mas se o aluno gostar de Matemática e enxergá-la como um aspecto divertido da vida escolar, o caminho a trilhar será muito mais fácil.
* Revista distribuída pela MATFUND Foundation aos alunos das turmas de High School da Hungria. A periodicidade do KöMaL é mensal e cada exemplar contém dezenas de exercícios de Matemática e Física, desde o nível básico até o avançado.