Tendências do Vestibular traz nesta edição a análise dos principais vestibulares de São Paulo – Fuvest, Unicamp, Vunesp e Unifesp – e do último Enem, feitas pelos professores do Etapa. São informações de grande utilidade para os estudantes que se preparam para prestar no final do ano alguns dos vestibulares mais bem elaborados e concorridos do país. Nos textos sobre as matérias – Biologia, Física, Geografia, História (incluindo Filosofia e Sociologia), Inglês, Matemática, Química, Português (e Redação) – os estudantes podem se familiarizar mais com o que os exames privilegiam em relação a contexto e conteúdo das disciplinas. É um conhecimento que lhes dará mais segurança para estabelecer um eficiente ritmo de estudo e uma eficaz estratégia de resolução das questões nos vestibulares 2019.
A redução da contextualização na formulação das questões dos principais vestibulares, já observada em 2017, acentuou-se em 2018, sem perda da complexidade das provas, que para serem resolvidas exigiram real conhecimento de conteúdo das disciplinas. O Prof. Edmilson Motta, coordenador do Etapa, destaca que essa progressiva mudança, mais evidente na Fuvest, é uma evolução do formato tradicional dos exames, com questões mais diretas, que não são menos complexas, cobram dos candidatos maturidade na preparação e conhecimento do conteúdo das matérias e não desviam a atenção com aspectos diversivos, os quais não contribuem para uma avaliação adequada.
Ele defende a contextualização bem construída – “aquela característica de cobrar os conteúdos das disciplinas de maneira interessante, relevante e profunda, às vezes até criativa, inesperada”. Mas descarta a contextualização gratuita, que para o candidato significa perda de tempo, desviando-o dos pontos em que efetivamente tem de se concentrar. “Matemática e Física são as matérias que mais se afastaram do modelo de contextualização injustificada. Nessas matérias, muitas vezes o formulador da questão pode querer de alguma maneira aproveitar o contexto, ou simplesmente desprezar tudo que foi dito antes e perguntar outra coisa, só remotamente ligada ao enunciado. Hoje, mesmo no Enem as questões de Matemática são mais diretas, ficando fácil o acesso do participante ao que é relevante para a resolução”.
O uso disseminado de contextualização, a naturalidade com que vinha sendo empregada, impõe mais cuidado com os aspectos relativos ao tema da questão. “Às vezes tínhamos questões com uma contextualização maravilhosa, mas com uma cobrança superficial do assunto específico da disciplina. Era uma contextualização bonita, agradável... e irrelevante, em detrimento de uma cobrança de conteúdo mais cuidadosa, mais elaborada. Isso se vê cada vez menos, o que hoje se vê mais é o conteúdo específico sendo cobrado associado à capacidade de aproveitar as informações apresentadas utilizando formas e linguagens variadas".
Cresceu a dificuldade nos vestibulares atuais? O Prof. Edmilson Motta avalia que sim e credita parte dessa maior complexidade ao excesso de contextualização nos últimos anos – agora rumo a um equilíbrio. “Há 20, 25 anos as questões eram bastante diretas na cobrança do conteúdo, mas vieram ganhando complexidade ao longo dos anos. Esse foi um movimento que se aprofundou com o Enem, mas tinha começado pela Vunesp, em cujo vestibular já havia a necessidade de o candidato tirar informações do texto, do enunciado, para, junto com seu conhecimento específico, responder bem a questão".
“As mudanças agora observadas são preliminares, mas reencaminham os vestibulares para a formulação de questões mais diretas, cobrando conhecimentos dos conteúdos das disciplinas. Essas mudanças ainda não são marcantes e, na verdade, não se preceitua a prevalência de um dos modelos, e sim o equilíbrio que dá às provas o necessário poder de selecionar os melhores estudantes para o Ensino Superior.
Neste ano, por exemplo, vimos questões excelentes de História, Química, Geografia, com perguntas exigindo reflexão sobre os conceitos e tendo como motivação alguma situação relevante ali colocada para ser tratada com os conhecimentos que o candidato tem do Ensino Médio. Isso valoriza o aprendizado, o conhecimento do estudante". No quesito dificuldade, o Prof. Edmilson cita ainda o contraste entre, por exemplo, a elevada complexidade das questões de Matemática nas duas fases da Fuvest 2018 e a inadequação da prova específica da Unifesp para selecionar os alunos da Escola Paulista de Medicina.
"Para um curso concorrido como Medicina, a maior simplicidade desse exame joga as notas muito para cima. Nas carreiras de alta concorrência a diferença do último classificado para o primeiro colocado é mínima. Candidatos altamente preparados, capacitados a resolver as questões mais difíceis e até a alcançar a primeira classificação, podem perder a vaga se cometerem qualquer pequeno deslize em uma questão fácil. Não é que ele tem condições só de passar, ele tem condição de passar em 1º lugar e eventualmente sequer é aprovado. Uma prova um pouco mais difícil tornaria a seleção melhor".
Sociologia e Filosofia estão já há um tempo nos vestibulares e vale destacar que o Enem faz hoje uma cobrança equilibrada das duas disciplinas. Durante vários anos o número de questões de Sociologia foi superior ao de questões de Filosofia – quase dois para um. Agora a prova de Ciências Humanas está mais bem distribuída entre História, Geografia e Filosofia/Sociologia: praticamente um terço para História, um terço para Geografia e um terço para Sociologia e Filosofia, divididas mais ou menos igualitariamente. Ajustou-se ao que se esperava. Antes, acontecia de ter muito mais questões de Geografia ou História, e bem mais Sociologia do que Filosofia.
Na Vunesp, diz o Prof. Edmilson Motta, Filosofia está bem consolidada e seu maior nível de dificuldade é um diferencial nas duas fases do exame. Na 2ª fase, tanto Filosofia quanto Sociologia aparecem com especificidades. Quem vai prestar esse exame precisa se preparar com cuidado porque ele exige conhecimento que não se tira da leitura do enunciado das questões e pede conhecimento de aspectos relevantes das disciplinas. Na Unicamp, Sociologia é bem atrelada a Geografia e Filosofia é bem atrelada a História. É comum ser difícil localizar as questões de Sociologia e de Filosofia, tão bem ligadas estão a História e a Geografia".
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