O Balanço dos Vestibulares 2019 traz a análise dos principais exames de São Paulo – Fuvest, Unicamp, Vunesp e Unifesp – e do último Enem, feitas pelos professores do Etapa. São informações de grande utilidade para os estudantes que se preparam para prestar no final do ano os vestibulares mais bem elaborados e concorridos do país.
Nos textos sobre as matérias – Biologia, Física, Geografia, História (incluindo Filosofia e Sociologia), Inglês, Matemática, Química, Português (e Redação) – os estudantes podem se familiarizar mais com o que os exames privilegiam em relação a contexto e conteúdo das disciplinas. É um conhecimento que lhes dará mais segurança para estabelecer um eficiente ritmo de estudo e uma eficaz estratégia de resolução das questões nos vestibulares 2020.
"É muito interessante e valiosa a direção que o vestibular está adotando, de estímulo ao aprendizado para a vida, para que a pessoa realmente possa se expressar como cidadão. Os exames atuais, comparados aos de anos atrás, são bem melhores, no sentido de exigir aspectos mais relevantes das áreas do conhecimento. Isso é cada vez mais cobrado nas provas e acaba conduzindo a uma formação ampla dos alunos". Essa avaliação, a interdisciplinaridade crescente e o efeito das novidades no sistema de seleção da USP são os temas abordados aqui pelo Prof. Edmilson Motta, coordenador do Etapa.
Neste ano a Fuvest abandonou os bônus do Inclusp para alunos de escola pública e adotou um sistema de cotas. As vagas da USP preenchidas pela Fuvest foram divididas em grupos: AC, Ampla Concorrência, sistema aberto a todos os candidatos, com 6134 vagas; EP, Escola Pública, 1475; e PPI, Pretos, Pardos e Indígenas, 756. Outras 2882 vagas foram preenchidas pelo Sisu, com a nota do Enem, seguindo a mesma divisão em três categorias: AC, 551 vagas; EP, 1475; PPI: 756.
A grande mudança provocada pela separação dos candidatos em grupos é a diferenciação das notas de corte na 1ª fase. Até o vestibular 2018 a Fuvest fazia uma classificação única dos interessados nas vagas de cada carreira; agora cada grupo tem classificação própria. A transparência da Fuvest, divulgando as notas de corte dos três grupos, com diferenças às vezes enormes, foi algo bastante corajoso e muito bom.
Várias análises podem ser feitas sobre essa mudança. Uma delas é que um problema sério da educação brasileira é o déficit de professores de Exatas – Física, Química e Matemática – em várias escolas públicas do Ensino Médio. Essa deficiência de formação em Exatas dos alunos de escola pública tem consequências. Ao não propiciar uma boa formação nessas disciplinas, afasta e limita o acesso dos estudantes de escolas públicas a várias carreiras. Por exemplo, em Engenharia a diferença entre as notas de corte foi muito grande entre os grupos. Na Ampla Concorrência o corte foi 55, na Escola Pública foi 38 e no grupo PPI ficou em 27 pontos, a menor nota admitida pela USP na convocação para a 2ª fase.
A maioria dos alunos de escola pública opta por cursos de Humanidades. Vemos que suas notas foram maiores que as da Ampla Concorrência em Ciências Sociais, Filosofia, Pedagogia, História, Letras e em Editoração, cursos bastante procurados.
Outro ponto que vale a pena observar, os treineiros de Ampla Concorrência tiraram notas relativamente altas. Os outros grupos tiraram a nota mínima de corte. Sente-se que o pessoal de escola pública não chega a fazer o exame como treineiros.
Em contraposição, há diversidade nas escolas públicas. Alunos de escolas técnicas e de escolas militares têm boa formação em Exatas, sem déficit na formação em Física, Química, Biologia, Matemática. Muitos são aprovados nos cursos mais concorridos, como Medicina, Direito e Engenharia.
Vale ainda a pena destacar que em Odontologia USP-SP a nota de corte de Escola Pública foi maior que a da Ampla Concorrência, 43 contra 42. Em Medicina todas as notas de corte dos três grupos foram altas. O grupo AC teve corte 73, EP 65 e PPI 58. Em Medicina, seja qual for o perfil do candidato, ele tem que estar bem preparado para conseguir aprovação.
A interdisciplinaridade é uma preocupação antiga nos vestibulares. A Unesp, principalmente, levou a interdisciplinaridade muito a sério na prova de Matemática com Ciências. Várias questões (aproximadamente 1/3 delas) dependiam de conhecimentos específicos de mais de uma matéria. A prova exigiu bastante dos candidatos e até surpreendeu um pouco os professores pela maneira como foram cobrados para valer conhecimento de mais de uma área.
A Unicamp usou o Inglês para intensificar a intersecção, a conexão entre as várias disciplinas – Matemática, História, Geografia, Atualidades. Ela ainda usou a interdisciplinaridade para fazer a conexão entre outras matérias. Na intersecção, as últimas questões de cada matéria faziam a conexão com a próxima matéria. A Unicamp foi bem criativa no uso das interdisciplinares. Uma prova pensada de maneira completa.
A Fuvest não trouxe tantas novidades em termos de interdisciplinaridade como a Unicamp e a Vunesp, mas um aspecto importante é que, como não tem mais a prova geral no 2º dia da 2ª fase, em que incluía questões interdisciplinares, colocou sete questões de Inglês na 1ª fase. Detalhe importante: aumentou a complexidade – não é tudo tradução, tem interpretação também, aspecto importante. O que se costuma ver como mais dificil em Inglês? Questões que exigem vocabulário maior. Mas aqui não é exatamente o caso. O entendimento da disciplina acaba sendo até mais importante. É um uso bem melhor do Inglês, dando mais relevância à disciplina no vestibular.
Biologia, Geografia e Química entraram nos exames com características analíticas bem presentes.
Por exemplo, hoje a formação em Geografia, voltada para os vestibulares, conduz a uma capacidade de entendimento da realidade muito mais aguda, muito mais rica.
Na 1ª questão de Geografia da 2ª fase da Fuvest, sobre as 12 crianças de um time de futebol que em junho de 2018 ficaram presas na caverna de Tham Luang, na Tailândia, entram um gráfico e um diagrama com a montanha em que se situa a caverna. As duas primeiras perguntas são de conhecimento bastante ligado ao conteúdo ensinado nas aulas, mas o item c trata do clima da Tailândia controlado pelas monções e é pedido que se explique a relação entre esse tipo de clima e a dinâmica hídrica relacionada ao evento citado. O clima de monções caracteriza-se por um inverno de estiagem e um verão muito chuvoso. Foram essas chuvas que causaram a inundação que deixou os meninos e seu treinador presos na caverna. Ganha complexidade.
No exame não se encontra uma questão que não tenha uma imagem, um gráfico, uma tabela para o candidato poder elaborar sua resposta. É um outro padrão de exigência, que vai ter um efeito excelente.
A mesma coisa com Biologia, que era a matéria menos preocupada com interpretação e interdisciplinaridade. Na Biologia entraram questões muito boas, estabelecendo um novo tipo de avaliação que traz dinâmicas possíveis para o aprendizado, para os materiais didáticos (ver questão 18 da Unicamp 2ª fase).
Química exigiu reflexão junto com os conceitos gerais (ver questão 4 da Unicamp 2ª fase). Não está trazendo complexidade por uma especificidade artificialmente colocada, mas por uma utilização dos conhecimentos em algo relevante. É outra maneira de trazer complexidade, que eu acho muito mais justa, muito mais interessante.
Física e Matemática não complicam. São matérias que naturalmente envolvem raciocínios de Exatas para resolver a questão. Então elas estão menos diferentes, mas cumprem bem seu papel. Matemática e Física vêm clássicas – estou falando aqui da Fuvest, mas isso é geral.
Nos últimos 20, 25 anos houve idas e vindas no vestibular. O Enem teve um papel importante em trazer a realidade para o exame. É muito valiosa a maneira como os alunos são hoje avaliados. Isso tem um impacto em sala de aula, o ganho no aprendizado dos alunos é sensacional. Você vai fornecendo para o aluno elementos em todas as áreas do conhecimento para ele poder entender a realidade. Isso é cobrado no ingresso dele na universidade. Uma evolução excepcional.
Leia as análises das demais disciplinas em http://www.etapa.com.br/tendencias/