O Curso Etapa realizou mais uma edição do Etapa Live no dia 12 de novembro. Dessa vez, o tema foi “Atualidades e Humanidades nos vestibulares” com assuntos que provavelmente serão abordados em diversos exames sobre os principais acontecimentos do Brasil e do mundo.
Juntos, Bruno Correia, professor de Filosofia do Grupo Etapa; Omar Bumirgh, coordenador de Geografia do Curso Etapa; Rafael Carneiro, professor de Sociologia do Grupo Etapa; e Thomas Wisiak, coordenador de História, Filosofia e Sociologia do Curso Etapa, fizeram uma retrospectiva dos temas mais discutidos ao longo de 2020 e comentaram como esses fatos poderão influenciar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os grandes vestibulares paulistas.
O professor Bruno Correia explicou que a concepção moderna de “verdade” tem sido contestada por alguns segmentos da sociedade e que uma das razões para o surgimento desse fenômeno é a burocratização da Ciência, que envolve métodos, rituais e procedimentos complexos para comprovar a veracidade dos fatos. Além disso, na maioria dos casos, o conhecimento científico fica restrito à comunidade acadêmica, que utiliza uma linguagem refinada e, consequentemente, distante do cidadão comum.
“Esse distanciamento é a porta de entrada para o negacionismo científico, uma vez que as pessoas relutam em abandonar suas crenças para acreditar em fatos complexos, de difícil assimilação”, destaca Correia.
O professor afirma que o combate ao negacionismo científico só será possível por meio da democratização da informação. “Espera-se que os cientistas ocupem mais espaços, especialmente nas mídias sociais, para transmitir conhecimento diretamente ao cidadão, dentro de um fluxo de comunicação de mão dupla, no qual as pessoas poderão esclarecer dúvidas e compartilhar experiências sobre diversos assuntos”, completa o professor.
Sem dúvidas, a pandemia da Covid-19 é o grande assunto de 2020. Por isso, o professor Thomas Wisiak acredita que o tema pode ser abordado sob uma perspectiva histórica, em comparação com os efeitos de outras doenças (Gripe Espanhola, Peste Negra, SARS-Cov-1, H1N1, entre outras) ou, ainda, sob uma perspectiva contemporânea, devido aos impactos socioeconômicos, ao negacionismo científico e às mudanças de comportamento que afetaram o cotidiano das pessoas.
“Contudo, o estudante precisa ficar atento ao contexto das questões. Embora existam similaridades entre os temas, essas crises sanitárias afetaram a sociedade de maneiras diferentes e é necessário compreender como essas mudanças aconteceram”, diz.
No caso do Brasil, o professor relembra que a dificuldade de acesso ao saneamento básico contribui para o crescimento dos casos da Covid-19 por conta das barreiras que as pessoas enfrentam para adotar as medidas de higiene e prevenção.
Em seguida, Paulo Inácio, coordenador de Geografia do Colégio Etapa, fez uma participação especial para explicar que o Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado em julho deste ano, também poderá cair nos vestibulares. “Os candidatos precisam se atentar ao que dizem tanto os defensores do projeto, que acreditam na rápida expansão do sistema de saneamento, como aqueles que criticam a privatização desse serviço por considerá-lo um dever do Estado, conforme previsto na Constituição Federal”, alerta o coordenador.
Além das possíveis abordagens sobre os efeitos da Covid-19, o professor Thomas Wisiak destacou que a atuação dos três poderes durante o período mais crítico da pandemia também poderá ser abordada nos exames.
Entre os principais temas, estão: a concessão do auxílio emergencial concedido aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados; os projetos de lei para a manutenção dos empregos; e, sobretudo, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), que garantiu o atendimento aos pacientes com a Covid-19 em todos os estados da federação. “Apesar dos desafios relacionados à escassez de recursos e de profissionais, o Estado foi capaz de oferecer atendimento gratuito e universal aos brasileiros”, observa Wisiak.
O professor Rafael Carneiro observa que a pandemia fortaleceu os poderes dos governantes que, para combater a pandemia da Covid-19, tomaram decisões que interferiram diretamente nos direitos individuais das pessoas, como as restrições de locomoção, o fechamento de escolas, a suspensão de eventos públicos e de contratos de trabalho, por exemplo. “Diante de tantas mudanças, especulou-se sobre a formação (ou não) de um estado de exceção, no qual os direitos constitucionais das pessoas seriam violados”, diz Carneiro.
Para os vestibulares, é importante que o estudante reflita sobre os efeitos dessas medidas e se a pandemia poderá servir de justificativa para a formação de um estado de exceção. O docente relembra que os países lidaram de formas diferentes com essa crise e que essas decisões impactaram diretamente o sucesso ou o fracasso dessas nações no enfrentamento da doença.
O professor Omar Bumirgh explicou que a China e os Estados Unidos vivem momentos diferentes no cenário geopolítico: atualmente, os EUA representam uma potência em declínio, que tenta defender sua posição como a maior economia do mundo, enquanto a China tem demonstrado uma ascensão meteórica em termos econômicos, sociais e tecnológicos.
Bumirgh avaliou que os números estão ao lado da China. O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, estima que o Produto Interno Bruto (PIB) da China superará o dos Estados Unidos em 2028. Já em termos de tecnologia, a Huawei possui contratos de fornecimento de equipamentos para a internet 5G com mais de 170 países. Por outro lado, os Estados Unidos pressionam nações aliadas para não adquirirem os produtos chineses.
“Além disso, os Estados Unidos têm déficit comercial com a China, que também é o maior comprador de títulos da dívida pública americana, déficit que atualmente supera o PIB dos Estados Unidos. Ou seja, os chineses são os grandes credores dos americanos e esse poder econômico faz com que eles ocupem cada vez mais espaço no cenário geopolítico global”, ressalta o docente.
Diante desse contexto, podemos afirmar que há uma nova Guerra Fria em curso? Para o professor Bumirgh, a resposta pode ser “sim” e “não”. “Sim, porque são duas potências que representam sistemas ideológicos diferentes: de um lado, os Estados Unidos com uma democracia capitalista e liberal. Do outro, a China com um sistema socialista, liderado exclusivamente pelo Partido Comunista”, diz.
“E não, se considerarmos o conceito clássico de Guerra Fria, no qual as duas potências hegemônicas executam estratégias para expandir seus sistemas socioeconômico, político e ideológico. Nesse sentido, o que estamos vivendo hoje não se trata de uma Guerra Fria, pois a China é uma nação pragmática que se adaptou aos padrões impostos pela globalização. Portanto, não há interesse por parte dos chineses em exportar marxismo, mas sim em conquistar novos mercados e enriquecer por meio das relações comerciais entre os países”, conclui.