Nos últimos anos a prova de Português dos mais variados exames vem-se firmando como uma prova de texto. Porém, isso pode ser bastante vago, caso não entendamos o que se quer dizer. Para uma análise mais detalhada podemos considerar as provas em três aspectos: linguagem, literatura e redação.
Há muito, o “gramatiquês” vem cedendo espaço às interpretações de texto e para o que se poderia chamar de “gramática aplicada”. Cobra-se dos candidatos a capacidade de ler, compreender e interpretar criticamente textos de toda natureza – literários e não literários. Os conhecimentos linguísticos são exigidos na produção e/ou no reconhecimento de textos que atendam aos requisitos de adequação, correção, coesão e coerência. Dessa forma, pressupõe-se o domínio da norma culta da língua escrita, o reconhecimento de outras variedades linguísticas e a posse de uma vivência de leituras de textos literários. No que diz respeito ao formato estão consolidados exercícios a partir de pequenos trechos para uma única questão e enunciados que contenham uma breve contextualização do assunto cobrado. Normalmente, a fonte desses textos é bastante variada: jornais, revistas, propagandas, sites etc. – textos aos quais os candidatos estão expostos no cotidiano. Vale acrescentar que estão se tornando bastante frequentes também as questões que mesclam linguagem verbal e não verbal, que exigem não só bom domínio da língua, como a capacidade de se estabelecer relações, de abstração e de observação.
Em Literatura há uma expectativa de conhecimento de obras selecionadas e por que elas são as mais significativas de um período. A capacidade de interpretar e analisar textos recolhidos dessas obras e compará-los com outros de diferentes épocas e autores é mais um aspecto bastante cobrado. Além disso, em alguns exames existem leituras obrigatórias, que contemplam as mais variadas linhas e estilos literários tanto da literatura brasileira quanto da africana e da portuguesa. Os examinadores pressupõem a leitura integral das obras e, por essa razão, não são raras as questões que envolvem não apenas um fragmento de texto, mas o conjunto da obra, incluindo detalhes de personagens, tempo, espaço e contexto social.
Finalmente, a prova de Redação procura verificar a capacidade que os candidatos têm de opinar, refletir, formular hipóteses voltadas à interpretação de situações vazadas nos mais diferentes tipos de texto. O Enem, inclusive, exige uma proposta de resolução de problemas, para medir a capacidade de ordenamento das ideias e um posicionamento face a um tema.
A Unicamp solicita duas redações confeccionadas em tipologias textuais diferentes. Em 2018, foram pedidos um discurso para ser proferido a uma plateia formada por colegas estudantes e uma dissertação sob a forma de um artigo de opinião. Em ambos houve a preocupação de orientar o redator a se preocupar com o tema, ler os textos base e contribuir com um conteúdo possível dentro dos limites de um gênero textual. A Fuvest manteve a tradição de temas mais abstratos: quais são os limites da arte? A partir dessa indagação o candidato foi convidado a discorrer sobre esse tema que balançou a opinião pública quando a exposição patrocinada pelo grupo Santander foi fechada compulsoriamente. A Vunesp normalmente opta por temas mais prosaicos, procurando verificar a opinião dos candidatos sobre uma questão social; em 2018, a partir da pergunta “O voto deveria ser facultativo no Brasil?”, apresentava-se um tema atual, cujo conteúdo está no leque de assuntos cotidianamente veiculados na grande mídia e, portanto, de fácil acesso. A Unifesp, por sua vez, seguiu – e segue – um modelo muito parecido com a Vunesp (talvez em razão até de ser a mesma fundação responsável pela elaboração dos dois exames). Propondo um questionamento (“As redes sociais estreitam os laços entre as pessoas ou as tornam egoístas?”), trouxe à baila um assunto sempre atual: as redes sociais e os laços criados entre as pessoas. A banca apresentou uma coletânea que abordou o tema sob perspectivas distintas e, portanto, auxiliou a construção do texto dissertativo-argumentativo. Excetuando a Unicamp, o gênero redacional normalmente pedido é a dissertação. O texto produzido deve estar de acordo com a norma padrão, tendo por base o domínio da língua e a versatilidade na exposição de articuladores. Espera-se um texto bem elaborado, simples, correto, coeso, com uma argumentação coerente e sem propostas mirabolantes e inexequíveis de problemas comuns que precisam ser pensados ou repensados. Sempre é válido lembrar que uma boa redação é resultado de treino, leituras e boa vontade do redator.
Confira as tendências do vestibular para Português:
Enem:
Contemporaneidade e cotidiano, análise de diversas tipologias textuais.
Contemporaneidade e cotidiano.
Proposta de Redação – Enem:
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil".
Fuvest – 1ª fase:
Exemplo de literatura, com leituras obrigatórias
Fuvest – 2ª fase:
Linguagem verbal e não verba
Proposta de Redação – Fuvest:
Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema "Devem existir limites para a arte?"
Unicamp – 1ª fase:
Exemplo de leitura integral, isto é, análise da obra como um todo
Unicamp – 2ª fase:
Literatura africana
Vunesp - 1ª fase:
Exemplo de gramática aplicada
Vunesp - 2ª fase:
Exemplo de questão que cobra capacidade de estabelecer relações de abstração e de observação
Proposta de redação - Vunesp 2018:
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portugesa, sobre o tema "O voto deveria ser facultativo no Brasil?"
Unifesp
Figura de linguagem semântica
Conhecimento de escolas literárias
Gramática aplicada
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